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Concretismo

 

    Antes de darmos início à discussão, até mesmo para facilitar seu entendimento, caro (a) usuário (a), analisemos um poema concreto, sob a autoria de Décio Pignatari: 

    Exemplo de poema concreto

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

* Em vez de sentimentalismos, tem-se concretudes; 

* Em vez de elementos estruturais (estrofes, rimas...), a própria palavra, a palavra-objeto; 

* Formas? Dispostas geometricamente, de modo a permitir que o leitor assimile a mensagem por vários ângulos. Neste poema, em especial, da esquerda para a direita, de cima para baixo e vice-versa;

* Predomínio de imagens em detrimento ao caráter discursivo; 

    Elementos estes, dentre tantos outros, fazem-nos deparar com um novo estilo que norteou a poesia brasileira pós-Modernismo, demarcada, sobretudo, pelo visual. 

    Dessa forma, tendo em vista que a Literatura é concebida como a expressão do homem vivendo em meio a seu tempo, façamos uma breve retomada no contexto político que tanto demarcou a era em questão. 

    Contextualizamo-nos, pois, ao governo de Juscelino Kubitschek, que, pautado por forças desenvolvimentistas, fez-se notado por promover o crescimento industrial e urbano. Contudo, mescladas a esse avanço, apareciam a dívida social e a inflação. Assim, em meio a esse ínterim, graças a um discurso moralizante, subiu ao poder Jânio Quadros, demarcado pelas forças impetuosas de promover uma verdadeira faxina em prol de uma economia de uma ordem social mais justa. Depois de empossado, após sete meses de mandato teve de ceder lugar para seu sucessor, João Goulart. Instaurava-se, assim, um período de grandes instabilidades, tanto no campo político, quanto no econômico, o que resultou na formação de duas classes: de um lado as forças populares que clamavam por reformas sociais, e de outro os setores conservadores, temendo uma ameaça comunista. 

    Em 1964 entrava em cena o Golpe Militar, e com ele a fase da Ditadura, sem falar nos atos institucionais, sobretudo o AI 5. Surgiu, então, outra classe, dessa vez mais inteligente do que nunca, formada por movimentos estudantis, apoiados por professores, intelectuais e artistas, cujo intuito era o de promover uma verdadeira revolução social. Surgiu o cinema e instaurou-se a Bossa Nova (que contava com a participação de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, notabilizados por uma visão engajada da cultura nacionalista). O Tropicalismo, fruto desta ascendência cultural, em muito se baseou nas ideias do grande mestre Oswald de Andrade, com seu Manifesto Antropofágico, traduzindo a realidade brasileira com humor e irreverência por meio da habilidade artística. 

    Assim, sob forte influência de tais acontecimentos, surgiu também o Concretismo, originado em 1965 com a revista Noigandres, caracterizado como um movimento que reproduziu, tanto em forma quanto em conteúdo, as mudanças, ocasionadas pela industrialização, que tanto se fizeram presentes em solo brasileiro. Muitas de suas características já foram exaltadas por meio do poema que nos serviu de exemplo, cuja ideologia era fazer da palavra concreta objeto real para as manifestações voltadas para a crítica à sociedade, tendo no consumo exacerbado e no capitalismo sua principal “fonte de alimentação”. 

    Foi assim que seus principais precursores, Décio Pignatari, Haroldo e Augusto de Campos (sendo esses dois últimos irmãos), propuseram uma nova visão da arte poética, abnegada de sentimentalismos extremos e fundada na concretude de sentidos, explorando três de suas principais vertentes: a visual, a sonora e a semântica. 

    Como uma espécie de denúncia, já antes ressaltada, a literatura se fez vista por intermédio de grandiosas criações, como esta de Décio Pignatari, na qual notadamente identificamos uma crítica ao imperialismo norte-americano e ao consumismo da sociedade moderna, cujo slogan é “Beba Coca-Cola”. Nele, o autor permite que o leitor faça possíveis interpretações, dada a disposição geometricamente composta das palavras. São nítidas, dentre muitas outras, interpretações voltadas para uma concepção degradante do produto em voga (no caso, a bebida), manifestada pelo uso dos vocábulos “babe, cola, caco, cloaca”, denotando algo voltado para o imundo, para o pegajoso. 

 

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